Terrorismo (Aéreo)
“Quanto mais eu estudo fotografia, mais eu me interesso pelo mundo da arte e menos eu fotografo.”
A fotografia dos tempos atuais está cada vez mais exigente. Não basta fazer belas fotos para conseguir ser selecionado nos festivais de fotografia Brasil adentro (e afora), nas chamadas editoriais e exposições em galerias. É preciso ter um material consistente, inovador*, questionador. É dada a largada para a produção de uma série fotográfica que seja capaz de atormentar emocionalmente quem a vê ou, no mínimo, deixar o expectador sem nada entender. Tenta-se então escrever textos com linguajar rebuscado a fim de tornar o significado ainda mais… obscuro (Veja o ensaio Rorococó sobre isso). A ideia é fraca, diz um curador. Já foi feito, completa o outro. Não emociona, golpeia o último. O terrorismo na cabeça do fotógrafo está, então, finalmente instaurado.
A fotografia buscada neste cenário é mais próxima da arte contemporânea do que da fotografia em si, o que é muito legal para a arte, pois a enriquece, mas um saco muito chato para a fotografia.
Iniciei na fotografia porque era algo leve, eu achava bonito e me fazia bem. Assim que descobri quão grande e profundo era esse universo, resolvi conhecê-lo melhor e estudar cada vez mais. Depois de alguns anos e títulos (entre acadêmicos e cursos livres), a fotografia se tornou mais pesada, densa e o que era apenas divertido já não é mais. Não se pode errar, experimentar. Há de se ter cuidado com a composição. O horizonte não pode nunca ser torto. Aliás, torto não, desnivelado. Há de se falar bonito. Vinheta é brega. Assinatura é mais brega ainda. JPG é para amadores. Não é full-frame, não presta. O máximo permitido na pós é “puxar” a exposição (apenas se a imagem tiver sido feita em RAW) e ajustar o balanço de branco. A pena para inserção de elemento no Photoshop é a morte.
Este ensaio é o primeiro passo para voltar a me libertar e fotografar simplesmente. Saí intencionalmente para fotografar algo leve, fluído, sem a menor preocupação de fazer imagens dentro ou fora dos padrões impostos. Vou editar se eu quiser e como eu quiser. Vou usar câmera cropada com lente manual e com foco manual. Se me der na telha, ainda mando esse ensaio para Paraty que, mesmo não tendo nada de novo, pode ser que entre, só porque o texto é bonito (ou não).
Esta série continua em: Terrorismo (Terrestre)
Finalizo essa publicação com a letra da música “Leve” de Renato Motha e Patrícia Lobato inspirada no poema de mesmo título de Alberto Caieiro (heterônimo de Fernando Pessoa).
Leve, Leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro saber.
Eu queria ser como a brisa
Uma imprecisa coisa feliz
* Não tenho visto nada de inovador nos projetos selecionados dos últimos anos nos grandes festivais de fotografia do Brasil, como o de Paraty e o de Tiradentes.